Uma vida (im)perfeita

Eu, em tempos longínquos, fui uma pessoa muito organizada nesta vida. 
Tudo tinha uma ordem. A roupa era organizada (ainda é ahahah!!) por cores e género, a sala não tinha nada fora do sítio (isto é que já não volta a ser), o meu quarto era um santuário, a casa-de-banho tinha cremes e frasquinhos todos organizados (suspiro...). 
Quando chegava a casa, havia tempo para pôr música, pôr um incenso e cozinhar, imagine-se, a beber um martini!!! Sacrilégio!! 
Depois conheci o homem que me deu a volta ao coração e à casa. 
Caótico, muito caótico. Meias por todo o lado, roupa espalhada pela sala, moedas e chaves abandonadas pelos cantos da casa, alergia a lavar a loiça, enfim, tudo ao molho. 
Eu tinha duas hipóteses: mandá-lo dar uma volta e continuar na minha bolha imaculada ou baixar as armas e entrar no mundo dele. 
Podia dizer que tudo correu bem, que o amor é lindo e uma cabana e o coiso, mas seria hipócrita da minha parte para vocês que me lêem, leitoras do meu coração. 
Não foi pacífica a adaptação. Mudámos os dois. Eu deixei de achar que ter a vida e a casa organizada era uma prioridade. Ele, provavelmente porque se apaixonou perdidamente por mim e mais provavelmente ainda porque não me queria ouvir mais também mudou. Cedemos de parte a parte. 
De vez em quando ainda há confrontos acesos (nem tudo está na paz do Senhor), mas já não fico com os nérvus como antes. Já não me afecta ter a sala cheia de moedas semeadas por todo o lado (o meu homem parece um mealheiro roto ambulante, é um fenómeno), ter a cama por fazer ou não saber das chaves de casa. 
Ainda mais agora que temos descendência, tudo ficou ainda mais caótico. A minha sala é o Toys r us, a minha cama é uma estação de serviço de camionistas, o meu carro tem bolachas esmagadas no chão. 
A minha vida mudou. Eu mudei. Nós mudámos. 
Por vezes sinto-me estranhamente mais relaxada, agora que não tenho de ter tudo em ordem. Ainda me passo quando as coisas passam o limite do razoável, aí tento não ranger os dentes e pedir com jeitinho. Eu diria que a minha vida agora está menos programada, no entanto estranhamente, nunca me pareceu tão perfeita.

4 comentários:

  1. É isso aí!
    Eu também já fui muito parecida com o que tu já foste. Ficava doente quando ele deixava tudo espalhado, com as coisas que ia buscar mas nunca voltavam para o lugar, enfim. Com a chegada das miúdas então, foi preciso muita mentalização.
    Ainda há dias em que me passo. Até porque sobra para mim. Gosto de ter as coisas minimamente em ordem, mas já não me tira o sono.

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  2. Pois, às vezes mais vale aceitar um pouco, para não desatinar muito...

    Eu sou muito desarrumada, mas também não gosto de ver as coisas desarrumadas... preciso de uma empregada sempre atrás de mim :)

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  3. Já fui como tu!
    Foi preciso aparecerem os dois homens da minha vida (MQT e Filhinho) para eu perceber o que realmente importa na vida!

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  4. eu sou uma desarrumadona, como diz a mamãe, e acho que já exerço uma influência negativa sobre o meu homem porque ele às vezes consegue amontoar mais roupa do que eu, mas o que é que queres?! cada um tem aquilo que merece, é o que é :)))

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