diálogos

No carro, mega conversa existencial sobre crianças, adultos, velhos e por aí fora.
Eu: "Então e achas que a mãe é criança, adulta ou velha?
Batata-frita-pequena: "Tu és muito velha".

não pregarás petas aos teus filhos

Noutro dia tive de ir à arrecadação e alguém se colou a mim.
Chegados às catacumbas do prédio, a personagem apontou para brinquedos de há três anos atrás e pediu "mãe, deixa-me levar um brinquedo desses, deixa lá deixa lá, DEIXA LÁ!!!!".
E eu tive a atitude mais adulta que a situação pedia.
Disse-lhe "vamos embora rápido RÁPIDOOOO que noutro dia andavam aqui ratos!!".
Claro que, tendo eu um filho mariquinhas como tudo, só podia esperar que ele se pusesse a andar num instantinho. E assim foi. Pirou-se para o elevador.
Depois perguntou "mãe, porque é que há ratos na arrecadação?".
E eu (a pensar sua ursa, já sabes que a mentira tem perna curta e agora vais ter de inventar respostas) respondi "porque lá está sujo e tem de se fazer uma desratização".
Pois que hoje, ao vir da garagem, querido filho perguntou "mãe, já fizeram a ratação?".
E eu tive a atitude mais adulta possível.
Ri-me à gargalhada.

batata-frita-pequena pezinhos de lã

Ontem de manhã, acordando com as galinhas e com a nossa rapariga às 7:00 (tau!), dirigi-me à cozinha para preparar o biberão.
Em piloto automático, aqueço o biberão no microondas. Esfrego os olhos. Olho para a janela a pensar na vida. O microondas apita. Conto as colheres com a máxima concentração possível que ainda é de manhã e o cérebro ainda está a aquecer. Agito o biberão. Viro-me em direcção ao quarto e apanho um dos maiores cagaços da minha vida. "BOM DIAAAAA!!!!"
Batata-frita-pequena esteve sempre ali, a observar-me.
Isto de ter criancinhas andantes, falantes e despertas é um atentado ao coração.

em modo "mexes o rabo ou levas"

Hoje, com esta chuva demoníaca, fui ter com o PT sádico ao seu ginásio.
Disse mal da minha vida quando me mandou fazer abdominais com uma bola de 3 kg pregada ao peito. Ou quando me mandou fazer uma série de 20 saltos (perguntei-lhe se ele me achava parecida com um canguru, mas ele não achou piada).
Mas... os meus olhos brilharam quando ele me mostrou... umas luvas de boxe. Sim, daquelas dos filmes.
E delirei quando ele me disse para esmurrar com força contra os nacos de esponja que ele segurava.
Eu, que nunca tinha dado um soco na vida, descobri que não há nada melhor para aliviar o stress.
É imaginar a cara de alguém ou uma situação menos boa e esmurrar, esmurrar!
Fiquei em êxtase e já pedi ao PT para passar a incluir isto nos treinos.
É que uma pessoa precisa de um escape, senão um dia passa-se e dá um malhão a alguém, como esta senhora, que estava danada com alguma coisa, de certezinha.
Atentai gente! Relaxem a dar uns socos. Mas não em outras pessoas, ok?

papéis invertidos

Pai chega a casa ao final do dia e vai ter com o filho.

Batata-frita-pai: "Queres brincar?"
Batata-frita-pequena: "Não. Preciso de descansar".

batata-frita-baby já sabe ler

... e viu o meu post.
Eu não sei de nada e não ponho as minhas mãos no fogo (o meu homem dorme ferrado), mas segundo o que ele me contou, esta foi a noite em que ela não bebeu leite e dormiu praticamente a noite toda. Quer dizer, parece que acordou umas duas vezes, mas assim que lhe puseram a chupeta, adormeceu.
E eu? Eu pirei-me para outra divisão da casa. Barriquei-me noutro quarto e avisei que precisava de isolamento radical, com direito a HORAS seguidas de sono.
Deitei-me às 23:00. Acordei ali pelas 4:00 com filho mais velho a pedir para o taparem, mas depois peguei no sono.
Acordei às 7:15, uma hora simpática para acordar. Não estou a ser cínica, eu não me importo mesmo de acordar a esta hora, desde que consiga dormir a noite toda. Foi ela que deu sinal e iniciou o dia.
Ouve miúda, estás no bom caminho. Vê se não avarias outra vez. Tu és fôfa como só tu consegues ser, mas sabes, a mãe precisa de repôr os neurónios saudáveis.

ter uma bebé que não quer comer

Sou eu!
Tenho uma baby gira nas horas e simpática, mas quando é para comer, o caso muda de figura. Vira bicho.
Já experimentei colher de silicone, de plástico e as de chá. Já experimentei batata doce, cenoura, abóbora e o raio.
A miúda não quer comer. Fecha a boca com força. Empurra com a língua. Sopra para não engolir.
No início começámos mais ou menos, ainda ía comendo alguma coisa. Agora uniu-se ao sindicato dos bebés que não comem e faz-me a vida negra.
Em média demoro uma hora para lhe dar o almoço ou jantar. Mas também já demorei uma hora e meia. Ah! E uma vez demorei duas horas.
Espetacular.
A única coisa que passa com distinção é o leite.
E eu? Eu já estive na fase passiva em que não insistia muito. Mas depois pensei olhamesta que já faz o que quer. Se não assumo a liderança passa ela a mandar em mim.
A modos que é isto. Uma espécie de duelo, todos os dias às 11:30 e às 18:30.

dilemas com muito nível

Decidi comprar uma garrafa de Moet Chandon para ter no frigorífico.
Para abrir quando a nossa rapariga dormir uma noite inteira sem nos melgar.
Claro que corro o risco da garrafa sair do prazo. E aí lá se foi uma fortuna para o galheto.
Se calhar não compro.
Compro antes uma vela para acender em sinal de agradecimento.
Os meus dilemas têm nível.

diálogos

Batata-frita-pai dá de caras com uma asneira.
Olha para o nosso crianço e diz "isto tem mão tua!".
Batata-frita-pequena, indignado, levanta as mãos e diz "ai não tem não! Vês?!".

um copo de tinto

Eu, apreciadora de uma boa vinhaça, fiquei em êxtase quando o pediatra liberou um copinho ao jantar, agora que já não sou vaca leiteira a tempo inteiro, apenas em part-time.
Mas, disse-me ele, "não é para apanhar uma carraspana, é um copo e dos pequenos". Enfim, uma pessoa não percebe porque raio ele diz isto. Se calhar topou-me ao longe ou então alguém lhe contou sobre as minhas (longínquas) noites em que me abraçava a uma garrafa de bom tinto e a dividia com o meu homem.
Adiante, ontem, para celebrar o acontecimento, abrimos uma garrafa de vinho.
Batata-frita-pai foi de propósito comprar e tudo. Ele é outro que nunca diz que não a um tinto.
Mesmo que quisesse beber mais do que um copo acho que não conseguiria. O mais provável seria ficar em coma alcoólico que isto de estar em abstinência há mais de um ano é quase como ser virgem de álcool outra vez.
Soube-me muito bem e veio em boa hora que isto do frio com um copo de tinto é do melhor que há.

porque os miúdos são do melhor


6 meses

E assim de repente passou meio ano desde que pus os olhos na minha rapariga.
Lembro-me como se fosse ontem das águas a rebentarem, das contracções maléficas (não há dor física maior neste mundo, não há!), do trabalho de parto rápido, do deslumbre, da magia. De ela nascer, de olhar para ela e dizer "tão pequenina!". De pensar "até que enfim nos encontramos".
Continua igual ao irmão, são os meus gémeos.
Continua simpática. Adora fazer charme para toda a gente, em especial para o irmão. O mano é uma espécie de santidade. Ele passa e ela arrebita. Dá gargalhadas só de o ver. É uma paixão.
Não é muito comilona. Vai comendo, mas acho que por ela continuava a mamar sem sopas ou papas.
Gosta de ficar sentada na cadeira de refeição a olhar pela janela.
Está sempre a virar-se de barriga para baixo e tenta rastejar para agarrar num brinquedo. Fica muito hirta de pescoço levantado, apoiada nos braços.
Fica largos minutos a estudar um brinquedo. Olha, mexe, adora etiquetas. Passa de uma mão para a outra e tudo outra vez.
Sorri sempre para a foto, sem eu dizer nada (gajas...).
A maior luta continua a ser as noites. Não há nada que mude isto. Estamos a implementar um novo método. Se resultar, eu conto. Se não resultar, acho que vou pirar.
Há dias menos bons em que eu penso "no que eu me fui meter". Mas no final do dia adoro o meu casalinho piroso, sou muito vaidosa com as minhas crias. Adoro andar de mão dada com o mais velho e vou adorar um dia andar com um em cada mão.

eles

Ele
A meio de um raspanete, faz sorriso pepsodent e abraça-se a mim.
Tento conter o riso e continuo a ralhar.
Ele abraça-se outra vez a mim. E outra vez e outra vez.
É tramado quando eles descobrem a manipulação.

Ela
Passa a vida a virar-se de barriga para baixo. E a tentar agarrar coisas que estão à frente dela.
É outra novidade recente: agarrar, estudar e passar de uma mão para a outra.
Está bastante constipada e é uma seca ter um bebé tão pequeno doente.