ponto de ebulição

Tenho um filho que é a minha sombra. Sempre foi.
Isto, ao princípio, pode parecer ternurento e amoroso, mas a verdade é que dá cabo da cabeça. Pelo menos da minha.
Batata-frita-pequena sempre foi um pouco sombrinha. Qualquer aflição e a mãe é o seu refúgio. Acorda a meio da noite, então chama a mãe. Magoa-se, vem a correr para a mãe.
Mas ultimamente isto tem agravado, de tal maneira que nem fazer xixi posso. Se me ausento da divisão onde ele está, vem atrás de mim a choramingar. Passa o tempo a pedir colo. Não posso cozinhar, não posso estar no computador, não posso sentar-me no sofá, quase que nem posso tomar duche.
O pai é bom para a brincadeira, tudo o resto é a mãe.
Mas a mãe precisa de descanso, precisa de fazer muitas coisas e com o colo ocupado não dá. A mãe precisa de dormir à noite e, de vez em quando, ficar a dormir mais um bocadinho ao sábado. A mãe precisa de neurónios a funcionar. A mãe precisa de ouvir menos vezes a palavra "mãe" e mais vezes a palavra "pai". A mãe tá em ponto de ebulição.
Um outro fenómeno nada interessante e nada fenomenal é o facto de a criatura puxar o vómito quando se sente ignorado, ou quando entra na espiral do choro. Isto é altamente stressante.
Na creche tudo impecável. Que é muito calminho, que aqui não faz nada disso não senhora.
Olha, que sorte. É só comigo, então.
Vou ali explodir e já volto.

7 comentários:

  1. Ai, batata frita, podia ter sido eu a escrever isto.
    A minha mais nova é assim (a mais velha também mas como é mais crescida já é mais independente), dá comigo em louca.
    Beijo solidário

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  2. Ó Marta, obrigada. É estranhamente reconfortante saber que há mais alminhas por aí como eu :/

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  3. É a fase mãezite aguda. Depois melhora. Com o tempo torna-se numa mãezite crónica. Mas sempre mãezite... A única diferença é que, nessa altura, já nos resignámos...

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  4. Sério, Palmier? Não sei se ria ou se chore :/

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  5. Podes rir... É gradual. Nem damos por nada...

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  6. Como eu conheço esse filme de cor e salteado, o meu filhote está com 6 anos e a fase da mãe, mãe,mãe,mãe,mãe,mãe,ainda não passou. Mas depois ele dá uns beijinhos e uns abracinhos que eu derreto-me toda. O pior é quando digo " Cris, dá-me espaço, deixa-me respirar " e ele responde, " Porquê mãe, não gostas de mim, não queres que eu esteja sempre ao pé de ti, eu gosto muito de ti, por isso é que quero estar sempre ao pé de ti..." E eu fico sem resposta...

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  7. Marisa Reis, é uma dualidade de sentimentos. Às vezes apetece fugir deles, passado 1 minuto apetece estraçalhá-los de beijos.
    E dá-me cá uma impressão que os gajos são mais melgas com as mães que as gajas.

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